Meu desafio foi transcrever
a música para seu sentido denotativo, ou seja, para o sentido real da letra. Escolhi o lindíssimo poema de Vinicius de Morais, “Rosas de Hiroshima” que representa poeticamente o bombardeio americano sobre as cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial. Queria começar com o questionamento: qual o sentimento que desperta em você uando recebe uma rosa de seu amado?
Pensem
nas crianças
Mudas telepáticas
1- O sentido
conotativo das crianças remete à pureza e a brandura que não existe mais.
2- Ao se
pensar em criança, associa-se a vitalidade/ energia/ agito, logo, há um paradoxo
ao caracterizá-las como caladas.
3-
Telepatia é o ato de se comunicar por pensamentos.
Única conexão possível, agora, dessas crianças.
Pensem
nas meninas
Cegas inexatas
4- Introduz-se
novos personagens, agora um pouco mais velhos, as meninas.
5- A adolescência
é a fase de reconhecimento da sua existência e do mundo. O adjetivo “cegas”
impossibilita essas meninas de ter a chance de explorar/ observar o mundo.
6- Inexatas
remete a ideia de não precisão, ou seja, o rompimento do poder de escolha das
jovens.
Pensem
nas mulheres
Rotas alteradas
Rotas alteradas
7- Atingindo todas as faixas etárias, agora, as mulheres adultas. “Mulher” é a representação da fertilidade e da gestação/ geração de novas vidas (antítese a bomba que representa a destruição de vidas).
8- Nesta
fase, adulta, as pessoas já possuem suas metas claras, mas suas “rotas” =
caminhos escolhidos são “alterados” = destruídos/ invalidados.
Pensem
nas feridas
Como rosas cálidas
Como rosas cálidas
9- A rosa representa delicadeza e beleza. Há um impasse
ao se usar “rosas” como adjetivo para as feridas (que remetem a machucado). Um
sentimento de distorção da realidade.
10- Cálida
é um adjetivo para quentura, ou seja, as rosas cálidas representam as feridas
de queimaduras.
Mas,
oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
11- A “rosa”
se refere metaforicamente a “bomba” explodida em Hiroshima, Japão. A forma da
explosão se assemelha ao formato de uma rosa. A expressão "rosa da rosa" causa um efeito de perpetuação, assim como o da bomba.
A rosa
hereditária
12- A “rosa”
se refere as consequências da bomba que se perpetuam, agora, por todas as
gerações seguintes.
A rosa
radioativa
Estúpida
e inválida
13- A “rosa”
se refere a “bomba” ser radioativa, estúpida e causa de invalidez física dos
homens. A bomba nuclear é cancerígena e causa a esterilidade feminina.
A rosa
com cirrose
14- A
cirrose pode ser uma doença que não se cura, apenas se controla, logo, os danos
da explosão são irrecuperáveis.
A
anti-rosa atômica
15- É
terminologia militar “anti” remete ao ataque contra o poder inimigo, logo, “anti-rosa
atômica” é a incapacidade de poder bélico japonês de contra-atacar a bomba atômica
(Covardia?).
Sem cor
sem perfume
16- Todas
as características da rosa são retiradas. Aonde está a beleza de Hiroshima
agora?
Sem
rosa sem nada
17- Que no final, nem a própria bomba existe mais.
Afinal, porque escolhi esta música?
Apesar da particularidade de Vinícius de Morais ao abordar sobre o
ataque sobre Hiroshima, as consequências de qualquer guerra podem ser idênticas
ao descrito. A estratégia do autor é a tentativa de influenciar o leitor
através da sensibilização e humanização aos efeitos de uma guerra.
Já pensou nas milhares de mortes, danos físicos e sonhos destruídos? Já pensou no desespero das pessoas que presenciaram o ocorrido? Já se colocou no lugar da vítima e dos familiares? O que faria se soubesse que sua vida seria interrompida? REVOLTA. ÓDIO. INCERTEZA. Estes sentimentos que vivi, em meu peito, quando fiz minha leitura pessoal, extraordinariamente representada pelo poeta.
Com a minha mente de hoje, não sou capaz de me colocar no lugar dos
militares americanos, durante aquela situação, e aceitar as suas escolhas. A guerra
pelo poder econômico que recai sobre as vidas das pessoas que já “guerrilham” diariamente
para garantir o pão e o teto para sua família. Era, mesmo, necessário a demonstração
da força bélica americana para o mundo em forma de destruição de vidas?
Sensibilizou-me demais fazer esta análise porque sou aspirante militar da Marinha
brasileira. Muitas dúvidas surgiram a respeito da minha futura profissão. Como
posso ser capaz de tirar uma vida estrangeira em nome de meu país? A que ponto estarei sujeita a aceitar este tipo de situação em nome do meu compromisso? O patriotismo mascarado de defesa do País, seria um verdadeiro egoísmo cruel? Pensei, pensei, pensei, por dias, o valor da atual vida militar.
Agora, finalmente, vejo, mais claro do que nunca: minha missão é garantir um mundo melhor através da vida militar. Este desejo está se tornando uma responsabilidade cujo poder e alcance estão cada vez mais fortes, em minhas mãos, porque, hoje, venho, por meio de palavras, transformar a visão do militar em compromisso com a paz mundial.
Manter as guerras no passado. Transformações no presente. Paz no futuro.
Marinha do Brasil - Missão de Paz no Líbano, com operações no início de 2011.
Marinha do Brasil - Comando de força de paz no Haiti, com operações no início de 2004.
Apesar do objetivo central de uma força armada ser o ataque e defesa, em períodos de guerra, meu desejo é a amplificação da visão de força pacificadora que o militar tem.
Por isso só tenho gratidão em referenciar a todos os colegas militares
brasileiros que serviram e servem meu País em missões de paz pelo mundo - hoje se totalizam em 30 missões da Nação Unida (Missões de paz). Só
tenho gratidão a Marinha do Brasil por estes financiamentos.
Espero que este desejo esteja, também, no coração de todos
os militares. Fica a minha prece de esperança a eles e que seja dada serenidade
durante situações em que suas escolhas influenciarão sobre as vidas de outras
pessoas.
"Tradição em fazer bem feito. "
Créditos pela
revisão e ao carinho, meus queridos: Daniel Constatinos e Ane Ossanes.
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