Eu pensei muito qual eu gostaria que fosse o meu primeiro tópico aqui. Acho que o mais lógico, já que vou falar muito dele em outros posts também, seria contextualizar a minha mudança para Portugal. Mais especificamente para o Fundão!
Como eu já falei aqui no passado, eu sou formada em engenharia eletrônica, e sempre trabalhei na área de software embarcado.
Um belo dia lá em setembro de 2019, tempo em que Covid ainda não não era uma palavra no nosso vocabulário, recebi um e-mail proveniente de uma lista de ex-alunos da universidade. Era de um colega que se formou comigo, divulgando vagas para empresa onde ele estava trabalhando em Portugal. Lembro de ter lido o e-mail e pensado: “nossa, que legal que ele está em Portugal…”
Lembrei da viagem que tinha feito ainda naquele ano, onde tive a oportunidade de conhecer male mal Porto. Recordei ter gostado da cidade, mas a viagem em si não foi a mais legal da minha vida. A situação do relacionamento já estava ruim àquela altura, e para coroar eu tive H1N1. Passei parte da viagem dentro do quarto do hotel tomando antibiótico, e nem um vinho do porto experimentei…
Mas voltando ao e-mail que eu havia recebido: pensei que legal aquela situação de uma empresa estar contratando diretamente no Brasil e fazendo todo o sponsor para levar para Portugal. Na época foi uma perspectiva toda nova para mim, mas na hora não cogitei que pessoalmente seria uma opção.
No dia seguinte recebi uma notificação do LinkedIn: era o mesmo colega mandado a vaga, mas agora no inbox acompanhado das seguinte frase: “Bora???”
Conversamos como estavam as coisas, eu perguntei sobre como era a vida na cidade onde ele estava e como era a empresa. Como havia sido o processo de mudança e tal… Perguntei sobre o custo de vida, o valor do aluguel, e os custos mensais com o mercado e contas da casa.
Ainda durante aquela semana a ideia toda ficou pairando na minha cabeça, até que eu decidi: por que não? Pelo menos fazer o processo seletivo de uma empresa estrangeira seria super interessante, mesmo que não fosse para de fato ir embora. Ainda naquela semana eu acabei topando mandar o currículo pra ele e ele encaminhar para o RH.
Depois de provas e entrevistas (sim, mais de uma), eu inicialmente recebi a proposta para um projeto em Porto. Porém, avaliei que mesmo querendo muito morar numa cidade grande e com aeroporto (prioridades), num primeiro momento a vida seria menos complicada numa cidade menor, com custo de vida mais baixo, e com uma sensação de comunidade mais forte. Afinal de contas, além de conhecer alguém que já morava lá, em um lugar menor é sempre mais fácil criar novas amizades. No fim, a minha condição para aceitar a proposta é que ela fosse para o Fundão.
Exatamente um mês depois daquele primeiro e-mail, eu disse sim a essa nova jornada.
Fiz o processo de visto no final de novembro. Como eu tinha uma viagem marcada para o fim de ano, o passaporte ficou comigo e seria solicitado o envio quando o visto fosse aprovado. A mensagem de aprovação do visto veio na véspera da minha aguardada viagem, dia 17 de dezembro! Viajei feliz da vida, com o pedido de demissão feito e um dos maiores frios na barriga que já senti até hoje.
Para contextualizar, em dezembro de 2019 o Corona vírus era “um surto” numa cidade isolada da China.
Inicio de janeiro eu fiz o envio do passaporte como solicitado e uma semana depois o recebi de volta. O visto em mãos e cagada de medo! 😅
Além de ter que cumprir o aviso prévio, eu também tinha um convite para ser madrinha de casamento, então me coloquei a disposição para viajar a partir de metade de fevereiro.
Embarquei para Lisboa no dia 15 de fevereiro. Existiam alguns outros pontos do mundo relatando casos no tal COVID-19, mas ainda não era claro o rumo que as coisas tomariam.
Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo. Menos de um ano depois de eu ter oficialmente me separado, da minha vida ter virado de ponta cabeça, eu estava mais uma vez mudando de rumo. Mas dessa vez eu estava no controle, eu estava fazendo algo única e exclusivamente por mim. Isso pode soar egoísta. Mas depois que a gente passa alguns perrengues na vida, abrindo mão de limites e oportunidades por motivos que não sejam legitimamente nossos, aprendemos que o nome disso na verdade é estima. Auto-estima. Um ato de auto-cuidado.
Até o último minuto antes de passar pelo raio-X do aeroporto de Curitiba, foram provações atrás de provações… Se eu não te der muitos detalhes pode parecer que essa mudança foi fácil, simples e nada burocrática. Mas essa é apenas uma fração de tudo que aconteceu entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020. Mesmo antes disso houve muito fundo do poço, houve muito “não sei se dou conta”. Muita dúvida... Mas a gente só descobre se dá conta ou não tentando. E foi isso que eu usei como fundamento para aceitar essa mudança de país.
Todo o processo teve suas emoções... E no momento em que cheguei na sala de embarque ainda em Curitiba e sentei próximo do meu portão com destino a São Paulo, naquele exato momento eu desabei. Passou um filme na minha cabeça. Foram tantos tropeços, tanta papelada pra providenciar, malas para arrumar e documentos para deixar em ordem para quem ficava no Brasil. Naquele momento, depois de ter despachado minha vida em 3 malas e me despedido de todo mundo, pensei: “eu não sei quando eu venho pra cá novamente…”
Toda aquela mulher forte, que estava rebolando para dar conta de deixar tudo em ordem, desabou. E eu me permiti chorar ali no meio do saguão de embarque, senti que não era o momento pra segurar mais tais emoções. Era hora de deixar ali toda aquela dor e stress, tudo aquilo não pertenceria a esse novo lugar para onde eu estava indo. Eu não pensei na vergonha, ou até mesmo se aquela minha cara inchada de choro não levantaria algum tipo de suspeita e eu não seria duplamente revistada pela Polícia Federal hahahaha...
Incrivelmente, na viagem entre Guarulhos e Lisboa eu consegui dormir profundamente. Era tanto cansaço e exaustão que o meu corpo apenas desligou. Foi um belo encerramento de ciclo para abrir espaço para um novo capítulo da vida.
Eu, algumas malas e muitas páginas em branco para escrever...
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