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segunda-feira, 2 de abril de 2018

O impacto positivo da Loja Eco C&A

às 12:01


Há poucas semanas fui surpreendida com um convite para conhecer a Loja Eco da C&A e o novo espaço de sustentabilidade criado no local.


          Jamais imaginei associar grandes redes da indústria da moda com responsabilidade social e ambiental e então,  rapidamente li todas as informações disponibilizadas pela rede na página que criaram sobre sustentabilidade.
E neste momento começaram as surpresas, pois descobri que desde 2009 a C&A já produz um relatório de sustentabilidade com base nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), com o propósito de apresentar uma prática de transparência ao público e evidenciar o compromisso em fazer moda com impacto positivo.
Também me surpreendi ao saber que a C&A monitora seus fornecedores e subcontratados no Brasil, sendo possível a qualquer pessoa ter acesso a esta lista com mais de 700 nomes.
Além disso, a empresa tem atuado fortemente com o objetivo de coibir qualquer tipo de mão de obra irregular e buscar a melhoria contínua das condições de trabalho e das questões ambientais em toda a sua cadeia de fornecimento.
Imagem extraída do site
A Loja Eco da C&A está localizada na Rua dos Andradas nº 1620, no Centro Histórico de Porto Alegre/RS e é a primeira loja ecologicamente sustentável no Brasil e a segunda unidade “verde” da marca no mundo (a primeira foi inaugurada em 2008, em Mainz, na Alemanha).
          Então, da surpresa passei à curiosidade e, ansiosa, aguardei a visita agendada para 14/03/2018. 
Imagem fornecida pela C&A
           Naquele dia, fiz parte de um grupo constituído por blogueiras e jornalistas, recepcionado por uma equipe de São Paulo e no "Espaço Sustentabilidade" tivemos uma excelente conversa com a Mariana Vieira, coordenadora de Sustentabilidade da C&A no Brasil, que nos relatou todas essas mudanças na área de sustentabilidade ocorridas na empresa nos últimos anos. 
           Depois, conversamos com o Rafael e a Nádia (e aqui estou mega chateada que não consegui os sobrenomes para identificá-los corretamente) que nos apresentaram o projeto de engenharia do prédio.
Imagem fornecida pela C&A
Uma das coisas que mais me surpreendeu, foi saber sobre a preocupação da empresa com a cadeia de produção, onde os produtores são classificados de ”A” a “E” e que o objetivo, até 2020, é que todos esses produtores cheguem a classificação “A” e “B”, através de processos de aprimoramento para que todos alcancem os patamares estabelecidos pela rede.
Nem preciso dizer que a iniciativa é incrível. Investir no crescimento dos produtores ao invés de “descartar” aqueles que não estariam “adequados” às exigências e/ou normas da rede, é algo que não costumamos ver em grandes empresas. A humanização deste processo quebrou paradigmas que eu tinha em relação às grandes redes de moda.
            E um ponto que me deixou muito feliz, foi ver como a empresa está concentrada em utilizar em suas roupas um algodão mais sustentável, incluindo o algodão orgânico, que tem um impacto significativamente menor, pois elimina a aplicação de pesticidas e fertilizantes sintéticos, além de reduzir o consumo de água na produção.
Várias linhas de roupas já utilizam um selo de identificação (cerca de 40% das peças), sendo que o objetivo é aumentar para dois terços as roupas produzidas com algodão mais sustentável até 2020, mantendo os mesmos preços das roupas convencionais.
            E, usando uma expressão daqui do Sul, "me caíram os butiás dos bolsos" quando fomos apresentados a linha de camisetas compostáveis. Exatamente isso que leram, compostáveis! Mas vale esclarecer, essa peça de roupa não vai se desintegrar com o uso, ok? Pode usar e lavar o quanto achar necessário e, somente quando ficarem bem desgastadas e se tornarem imprópria para uso, serão colocadas na composteira e irão se decompor em doze semanas. Não tem composteira? Tranquilo. Pode enterrar no jardim. Legal né? Como adepta do movimento Zero Waste, essa novidade me conquistou totalmente.
             A C&A também está participando do Movimento Reciclo, onde 72 das mais de 270 lojas da rede já são participantes e clientes e não clientes podem participar, levando roupas, acessórios, calçados até os pontos de coleta destas lojas e que serão direcionados aos parceiros do Movimento que atuam em benefício de comunidades carentes e recicladoras têxteis para reaproveitamento na indústria.
         Todas essas mudanças realizadas nos últimos anos pela empresa - e das quais só tomei conhecimento agora - me apresentaram uma "nova C&A", que ainda que esteja voltada ao ramo moda, também está "focada em propor experiências que vão além do vestir", como me relataram. 
      Mas vamos ao projeto de engenharia, que merece uma atenção especial. 
       O prédio onde hoje está localizada a Loja Eco, foi reformado de 2009 a 2013, adotando conceitos de sustentabilidade, sendo opção da empresa reformar o prédio histórico (e usado pela rede desde 1978), ao invés de demolir e reconstruir um novo, que, infelizmente, é a opção da maioria das grandes empresas.

Este fato também me deixou super feliz, pois sei que reformar um prédio histórico é extremamente dispendioso e tenho que admirar a decisão da empresa pela reforma e principalmente em relação a preocupação de fazer um projeto sustentável, pois estamos falando de uma reforma que teve início em 2009, onde a sustentabilidade não era exatamente uma preocupação das empresas em geral. Com esse projeto, a C&A foi a primeira marca de varejo de moda no país a conquistar o selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), sistema internacional de certificação para construções, que assegura os critérios de ecoeficiência. E a loja exibe com orgulho este selo logo na entrada, destacada em uma grande coluna.
      Com a reforma, houve a mudança de lâmpadas mais eficientes na redução de consumo de energia, sistema de ar condicionado mais eficiente, banheiros com mictório seco, arejadores nas torneiras e válvula de descarga com duplo fluxo, mudanças que geraram redução no consumo de água e luz.
Inclusive, é objetivo da empresa que todas as lojas que necessitem de reforma vão ter seus projetos nestes mesmos parâmetros, sendo a loja de Porto Alegre a primeira de muitas.
Mas a cereja do bolo é o telhado verde.
Um espaço com cerca de 640m2, com árvores, trepadeiras e um gramado, promovendo um isolamento térmico e, por conseqüência, a diminuição do uso do ar-condicionado na loja. O local também possui sistemas de armazenagem de água da chuva para a irrigação das plantas.
Além disso, o espaço é utilizado como centro de convivência para os empregados da loja, mas clientes, estudantes e todos os interessados podem conhecer a Loja Eco em uma das visitas monitoradas que ocorrem durante o ano, preenchendo o formulário disponível na página.
Mas se você está curioso, para ver esse espaço, acessando o Google Maps é possível ter uma visão deste “oásis verde” em meio a “selva de concreto” que é o Centro da capital gaúcha.
Imagem cedida pela C&A
          O final da visita foi marcado por um workshop de customização, onde aprendemos com a criativa Mariana Petriche várias formas de customizar camisetas (descobri que tenho que treinar muito para fazer uma boa transformação de uma camiseta... eu errei feio na oficina e destruí a minha camiseta rosa. E até que comecei bem. O final é que foi trágico...)
Neste evento, vi uma nova C&A, muito diferente daquela que conhecia desde criança, que saiu do foco do simplesmente vestir e que decidiu aderir a valores e comportamentos mais sustentáveis, seja na estrutura física dos prédios de suas lojas, como também, no envolvimento ativo em toda a cadeia de produção, na valorização do trabalho e no impacto positivo de suas ações.
Tenho, porém, algumas ressalvas.
A primeira é em relação ao site, onde não é possível encontrar uma seção para as roupas com algodão mais sustentável, que nas lojas físicas são identificadas por uma etiqueta.
Considerando que o público que busca roupas com matéria prima mais ecológica é crescente e exigente, o site deveria apresentar essas peças com maior facilidade, pois nem através do sistema de busca é fácil localizá-las.
Além disso, a empresa ainda utiliza sacolas plásticas que, mesmo sendo oxibiodegradável, continua sendo um material plástico derivado do petróleo e assim, não combina muito com o projeto de sustentabilidade apresentado pela empresa. 
Embora a degradação desse material seja mais rápida (em torno de 18 meses), não são compostáveis, não se degradam anaerobicamente (sem presença de oxigênio) e em degradação profunda em aterros.
Eu espero que a rede C&A, diante de sua atual postura de sustentabilidade, forneça sacolas de papel ou inicie um projeto de fornecimento de sacolas retornáveis para clientes, seja como um “brinde” após um determinado valor de compras, ou quem sabe através de um sistema de pontuação para os clientes que possuem o cartão da loja e que vão sendo somados para cada vez que o cliente decline o uso da sacola e leve suas compras em sua própria sacola retornável.
        O importante não é só mostrar o que se está fazendo de diferente, mas ensinar para que todos possam contribuir com essa mudança. A divulgação para a conscientização e participação dos clientes neste processo é fundamental. 
E aqui quero deixa uma super dica: dê uma olhada na página do Instituto C&A e conheça o lindo trabalho desenvolvido através de apoio técnico e financeiro, promovendo o acesso de agricultores e outros fornecedores a uma rede de especialistas para fortalecer organizações e outros agentes de mudança, transformando a indústria da moda e permitindo que seus trabalhadores possam prosperar.
Considerando, também, que o Instituto C&A está colaborando com organizações, marcas e pessoas que tem potencial para criar uma indústria da moda mais justa e sustentável, vou compartilhar que um dos meus sonhos é ver grandes empresas trabalhando conjuntamente com produtores de moda autoral, através de eventos ou feiras, apresentando uma “moda local” e característica de cada região, levando novas experiências de consumo à população, bem como através de palestras, rodas de conversa e cursos.
Então voltamos ao meu questionamento inicial: é possível uma grande rede de moda se tornar sustentável e atuar com consciência social?
Se tivesse me perguntado isso há um tempo atrás, possivelmente eu diria que era difícil, mas depois dessa visita e de tudo que foi mostrado e explicado, eu digo que mudei minha forma de ver essa questão e afirmo que é possível sim, uma grande rede varejista se engajar em um projeto de sustentabilidade, ter consciência social e preocupação ambiental.
A moda ética e sustentável é possível e espero que outras redes desta indústria sigam esse belo exemplo que a C&A está nos apresentando, focando na sustentabilidade em sua estratégia de desenvolvimento e contribuindo para uma indústria com impacto positivo.




3 comentários:

  1. Que iniciativa maravilhosa!
    Acho ótimo que as fast fashion busquem esse cuidado, acredito que no futuro incentivará as menores também.
    Linda sua visita e o workshop de customização deu um charme mais especial ainda, né?

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  2. Nossa que boa iniciativa hein.
    Amei demais conhecer um pouco.
    https://blogdajenny2014.blogspot.com.br/

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  3. Realmente lindo trabalho, tomara que esse post chegue a outras pessoas e empresas, a divulgação da sustentabilidade merece ser repassada atentando que se cada um fizer sua parte podemos ter uma geração no futuro melhor. Bj

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